quinta-feira, 27 de maio de 2010

[improbabilidades] tentar arranjar a placa em moçambique

À quarta é de vez. Enfim, o epílogo...

Já ali queria dizer mais cerca de 15 minutos a andar bem, ainda mais embrenhados pelo meio do bairro. Por fim:

– É aquele. – disse o empregado.
– Espero bem que aceite fazer o arranjo, senão fica assim mesmo, voltamos para casa, que já não tenho paciência. – decidiu a Irmã Conceição.

Entregámos a dentadura ao senhor das câmaras-de-ar de bicicletas, Castelo Branco de seu nome, que a examinou tão demoradamente como o anterior. Por fim, lá se decidiu a consertá-la. Dobrou-se sobre si próprio e começou a juntar com as mãos um montículo de terra lamacenta misturada com detritos indistinguíveis, em cujo topo (qual cereja em cima do bolo...) colocou a prótese dentária! Ai, valesse-nos Santa Rita de Cássia! Tanto tempo e tanto esforço para a placa no final acabar em cima de um monte de lama... O nosso ar horrorizado deve ter sido bastante expressivo, porque quando o homem levantou a cabeça tentou confortar-nos dizendo "Não preocupar, Irmãs." e mais uma frase que não compreendemos e que o empregado não achou necessário traduzir.

Em poucos minutos deu o trabalho por terminado e passou à fase do polimento, para o que foi buscar um pano de flanela, mais negro que um tição ardido, e começou a esfregar vigorosamente. Minutos depois:

– Já está. Experimentar, Irmã!
– Como?!
– Experimentar! Colocar nos dentes.
– Nem pensar, não vai a pôr na boca agora. – Adiantou-se a Irmã Conceição – Mas deixe cá ver como foi que ficou.

Contra todas as expectativas, a placa estava como nova! Lisa, brilhante, macia, sem uma rugosidade. Nem queríamos acreditar...

– Botar preço, papá.
– Vinte contos, Irmã. [Vinte mil meticais equivalia, na altura, a menos de 1 €.]
– Tome cem, papá. Muito obrigada e muita saúde!

O homem pegou no dinheiro e levou-o à testa: "Graças a Deus!", ouvimo-lo murmurar.
Felizes com o desfecho, voltámos à oficina para agradecer ao dono o favor que nos tinha feito e regressámos ao Hospital Central, mas o Estomatologista considerou que o trabalho estava perfeito e não havia mais nada a fazer. Só a desinfectou longamente com um ar levemente enojado... Mortas de fome e perdidas de riso voltámos para casa, onde nos aguardava o almoço em banho-maria e o jeep já carregado, pronto a seguir para Iapala...

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