terça-feira, 15 de junho de 2010

[vudu no mundial] o escândalo do "alfinete dourado"

Fotografia de João Henriques

Meus amigos, eu sei que sou apenas uma loira sem uma gota de androgénios no cérebro e que, portanto, a compreensão do futebol não me está destinada. Posso dizer, aliás, que a primeiríssima vez que vi uma partida do princípio ao fim foi, salvo erro, um França-Turquia no Euro 2000 (estava sozinha em casa há várias semanas a estudar Anatomia II, tá?).

Passada a cadeira de Anatomia II (com distinção mas em segunda época, em parte também por causa do Euro 2000), vi mais uns quantos jogos da Selecção Nacional nos Europeus e Mundiais, CV mais que basto para me considerar habilitada a falar sobre o tema. E hoje o Sr. Professor lincou esta reportagem deliciosa e não resisto a partilhá-la também convosco...

Já dizia o meu mentor espiritual que cada costume ou cada vício da sociedade ocidental encontraria inevitavelmente o seu homólogo africano. Serve, pois, este post para perspectivar a questão da corrupção activa e passiva e do doping no futebol. Cá para estas bandas do mundo usa-se a nandrolona e afins, compram-se árbitros de futebol, fecham-se os olhos a falcatruas absolutamente gritantes. Em latitudes mais meridionais contratam-se feiticeiros para ficarem ao serviço das selecções. Ora vejam.

"Aos 84 minutos, a selecção do Benim estava empatada a zero com a do Gana num jogo em que só a vitória lhe interessava para a qualificação para o CAN 2010. Constant Danvikpenon, 41 anos, feiticeiro da selecção, já tinha tentado fazer vários truques para que a bola entrasse na baliza dos ganeses; com a ponta de um pequeno corno castanho, espalhou um líquido preparado com ervas locais nos bancos, no chão e nos cacifos do balneário dos adversários, espalhou uma solução à base de óleo vermelho no relvado e queimou folhas e paus numa casca de árvore sagrada para dar chama à sua equipa. Nada resultou.
- Decidi utilizar o meu truque mais forte - diz.

Tira do bolso o artefacto – um osso de leão, recheado com uma massa castanha, com dois dentes atados na parte de trás e com uma agulha pendurada.
- Digo as palavras mágicas e o nome do guarda-redes, levo a agulha à boca e espeto-a nesta terra que recheia o osso. Se eu quiser que o guarda-redes erre, o guarda-redes erra. Se eu quiser que o guarda-redes parta o pé, ele parte o pé. Se eu quiser que o guarda-redes morra…ele morre.

Poucos minutos passaram após o truque e, diz Constant, o Stade de la Amité pulou de alegria para festejar o golo do Benin. O feiticeiro sorri, orgulhoso:
- Eles trouxeram todos os seus charlatões e os seus marabouts, mas o nosso vodun foi mais forte!

No Benin, ainda mais do que em qualquer outro país africano, um jogo de futebol joga-se dentro do relvado, interpretado pelos jogadores e, fora dele, disputado por mestres de vodun, que normalmente se escondem em anexos do estádio. Durante 90 minutos utilizam truques misteriosos, tentam defender-se das magias do oponente, lançam feitiços para fintar os guarda-redes e apelam aos espíritos divinos para desferir o golpe letal na baliza adversária.

Na verdade, esta religião autóctone africana pouco tem a ver com a imagem diabólica que os filmes de Hollywood propagaram – o vodun é muito mais do que espetar alfinetes num boneco aterrorizador."

Reportagem reproduzida daqui e que vale a pena ler na totalidade.

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