sexta-feira, 14 de outubro de 2011

[welcome to mozambique] a caminho pelo mato fora...


No Caminho...
(Algures perto de Ribáuè, Nampula)

(continuando...)

“Isto não me está a acontecer! Não é possível…” pensava de mim para mim.

Ao meu lado, o Sr. Cachimbo ia tentando “marcar pontos”, querendo convencer-me de que ele próprio era um homem muito respeitador, que nunca tocava numa gota de álcool que fosse, que nunca na vida faria uma figura destas que envergonhasse quem estava com ele, que todas as suas mulheres teriam sempre direito a ser tratadas como rainhas… Eu, por meu lado, a única coisa que ouvia é que ele se referia às suas hipotéticas mulheres no plural.

E apesar de a poligamia fazer sentido na cultura macua e na religião muçulmana, naquele momento a conversa só me desgostava ao pensar no sofrimento e discriminação das mulheres e portanto tentava desviar a conversa e falava do tempo. E de cada vez que ele tentava derivar novamente para a forma como me trataria se eu quisesse ser mulher dele, eu recomeçava a dizer ao Sr. Rafael para tentar dormir, pedindo a todos os santinhos que ele não adormecesse de facto… isto porque está bem de ver que se ele adormecesse, eu deixaria de conseguir desviar a conversa tão facilmente.

No meio daquela confusão e conversa de surdos que era o nosso carro, íamos encontrando buracos enormes, de que às vezes quase não tinha tempo para fugir, e chapas a uma velocidade louca, vindos de qualquer curva sem aviso e que quase nos faziam sair da estrada para nos desviarmos, porque eles não se arredavam um milímetro que fosse e continuavam caminho exactamente pelo centro da estrada, onde o piso era mais direito e menos acidentado… Que diferença entre esta viagem e o encanto da primeira ida para Iapala. Que desconsolo… Nem tempo, nem oportunidade, nem disposição para olhar a paisagem que me tinha deixado literalmente sem ar e com vontade de repetir para mim “Verde, que te quiero verde”, como Garcia Lorca!

Mas as coisas não pareciam melhorar dentro do carro... Ainda íamos a um quarto do caminho e já o Sr. Cachimbo, frustrado de ver todas as suas investidas chutadas para canto pela bebedeira monumental do Sr. Rafael, começava a responder-lhe cada vez com maior azedume. Eu ia ver-me aflita se começassem a agredir-se verbalmente...

(continua...)

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