segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

[casa do gaiato] crescer na guerra...

Imagem da Campanha da ONG Child Soldiers denunciando a mobilização de crianças para a guerra na África Subsariana.

(continuando...)

Foi numa dessas jornadas de machibombo* que me apercebi, horrorizada, de que alguns dos meninos mais velhos, inclusivamente o António, tinham sido mobilizados para a frente de combate durante a guerra civil.

Quase no fim da minha estadia, no meio de uma conversa com os mais novos, de chofre e a propósito de uma disputa insignificante, o António perguntou-me se eu achava importante para uma família ter armas em casa. De súbito fez-se silêncio e o António parou o machibombo no meio do caminho. Pelos vistos era um assunto muito debatido entre eles e queriam muito ouvir a minha opinião.

Engoli em seco, tentei disfarçar que tinha ficado chocada com a pergunta, e respondi da forma mais natural que me foi possível. Dei-lhes a minha opinião, debatemos ideias, falei dos perigos, contrapus argumentos, dei exemplos, criámos situações hipotéticas. Por fim, voltou a colocar o machibombo em andamento e conseguimos mudar de assunto. Mas houve uma frase cruzada, captada de raspão, que me fez suspeitar da razão da pergunta… Na altura a frase não me fez muito sentido porque não podia conceber os meus meninos numa situação tão monstruosa. Mas claro, se tantas crianças tinham sido mobilizadas para a guerrilha, por maioria de razão isso poderia ter acontecido a estas, tão desprotegidas...

E nessa noite a frase ecoava-me nos ouvidos, não tanto pelo sentido mas pela expressão comprometida do menino que a tinha dito e o olhar fulminante dos outros que o rodeavam. Claramente era um assunto tabu, não entre eles, mas entre eles e os adultos.

*Machibombo - Autocarro
(continua...)

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