quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

[iapala] de volta ao hospital...

(continuando, já que insistem...)
– Mas as pessoas não têm mais nada que fazer? Aceitam ir a todas as cerimónias? Isso acontece muitas vezes?
– Para aí uma vez por ano para cada menina…
– Bem, com estas famílias grandes as pessoas não devem fazer mais nada! Se morre alguém são três dias, se alguém está doente podem ser semanas no hospital, se uma menina acaba o namorico, são mais dois dias…
– Sim, mas isto é geralmente ao fim de semana. Não interfere muito com a vida das pessoas. Pior é mesmo quando têm de ir para o hospital longe de casa. Isso é que desloca a família toda muitos dias e não conseguem mesmo trabalhar nada nessa altura… Chegam a perder as colheitas todas por causa disso, infelizmente…
– Por isso mesmo, deviam trabalhar sempre que fosse possível.
– Mas eles trabalham. As pessoas aqui são trabalhadoras. Mas pensa assim: a cerimónia do “muru tokotokho” é como se fosse um pretexto para reunir a família por causa de alguém. Nós também fazemos isso. Nos aniversários, por exemplo. É bonito. Faz bem. Dá uma sensação de união, uma noção de que se é importante… Muita gente me critica por mandar as meninas fazer cerimónia a casa, mas eu acho importante que elas tenham o apoio da família.
– Tem razão, realmente… Mas deve ser difícil lidar com tudo isto.
– Às vezes é difícil, sim, amiga… Todos temos a nossa cruz e eu tenho a minha, que é ajudar estas meninas… Mas é preciso ter muita fé e acreditar muito que vai tudo correr bem. É como o teu menino de hoje.
– Ah, ele só se houver um milagre… Ele está muito mal, Irmã. Nem sei se fizemos bem em dar esperanças à família. Por falar nisso, já passou uma hora, tenho de lá ir outra vez ver se pelo menos ainda está vivo.
– Está de certeza, não se ouviram gritos…

Nem de propósito, naquele momento ouviu-se um alarido enorme vindo do hospital…
– Ai… foi ele, de certeza, Irmã!
– Não… deixa ouvir… Ah, foi uma menina que nasceu! Não foi o teu menino. Os gritos são diferentes…
– Bem, tenho de lá ir…

Voltei para o hospital. O menino continuava deitado no berço, sem se mover. A respiração estava mais tranquila, o coração batia mais certo, mas continuava em coma. Olhei melhor para ele... Alguma coisa na face se tinha alterado... Belisquei-o para ver se pelo menos reagia à dor e fiquei horrorizada! Em resposta à dor ele tinha mexido levemente apenas um dos braços… Tinha metade do corpo paralisada! As lágrimas começaram a correr-me. Tinha sofrido danos cerebrais graves…

(continua...)

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