quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

[iapala] os dilemas e a minha própria consciência

(continuando a história que começou aqui...)

E agora? Mas o que é que eu fui fazer? Para que é que eu tinha embarcado naquela loucura de ir a Ribáuè com uma criança tão obviamente em sofrimento cerebral? Mais valia ter assumido que havia pouco a fazer por ela, no estado em que tinha chegado… A mãe começou a chorar quando percebeu a minha reacção. Eu nem tinha disfarçado. Quando sei que não há nada a fazer acho sempre que é melhor demonstrar que também estou triste… Nem sabia o que dizer. Abracei-a, dei um beijo ao bebé e despedi-me. Já todos estavam a dormir àquela hora. Era tarde demais para estar acordar a família toda com aquelas notícias…

A Irmã Lurdes esperava-me em casa.
– Que cara é essa? Não está melhor?
– Não, Irmã…
– Paciência, amiga. Fizemos tudo o que pudemos, tudo o resto está nas mãos de Deus.
– Mas é muito pior do que isso, Irmã. O menino se calhar vai sobreviver, mas vai ficar com sequelas muito graves. Se calhar até vai continuar em coma até ao fim da vida.
– Bem… resta-nos esperar…
– Nem sei o que fazer…
– Temos de apoiar os pais e consolar a família…
– É que nem sei se vale a pena continuar o tratamento nestas condições. O menino ou vai morrer ou fica com sequelas graves.
– É assim tão grave?
– Provavelmente não vai voltar a ver, a andar, a falar, a ouvir, comunicar. Nada. É grave! Se eu soubesse que isto ia acontecer…
– Que horror… Mas não digas isso, fizemos o que era o nosso dever. O menino era um menino saudável antes, era preciso tratá-lo. Não podíamos adivinhar.
– Mas agora tenho de lhes dizer. Não é justo dar aos pais esperanças e no final entregar-lhes uma criança totalmente dependente e sem esperança nenhuma de recuperar.
– Agora não! Não é correcto prever o futuro e fazer prognósticos. Temos de ter respeito por esta cultura. Isso é uma intrusão no terreno dos espíritos e dos antepassados. De qualquer forma eles têm sempre esperança até ao fim.
– Mas se eu lhes disser agora, se calhar vão querer levá-lo para casa e é melhor que termine os dias em casa ao colo da família e não no hospital. E se ficar no hospital se calhar vai sobreviver e ficar com sequelas horríveis.

(continua...)

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