quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

[ser estrangeiro é um modo de vida] inculturação


Carnaval de Quelimane, por António Zafanias, fotojornalista.
(Quelimane, Zambézia)


"Este Cronista Não Sabe que Não Sabe" Crónica de Manuel Cardoso, sj. Daqui.

"Em Moçambique, quando se recebe uma visita em casa é falta de educação perguntar se ela quer comer alguma coisa, se ela quer tomar algo. Perguntar a uma visita se quer comida é receber a visita como se fora um mendigo esfomeado. Receber bem é acolher a pessoa, sentá-la e depois ir cozinhar, colher ou comprar comida para lha colocar à frente. Mas como é que eu ia adivinhar que receber alguém perguntando, Queres almoçar connosco, é uma ofensa?

Esta é uma crónica sobre viver em África, sendo Europeu. Sobre ser estrangeiro. Sobre viver em Moçambique sem ser turista. (...) Segundo a ordem lógica desta crónica, o cronista devia agora apresentar as técnicas, os métodos: o modo e ordem para entrar em terra alheia. Mas o cronista não conhece esses meios. Pior, o cronista não sabe o que não sabe! (...)
Então, como descobrir o que não sei? Procurar moçambicanos, procurar estar com Moçambicanos, procurar estar com moçambicanos nos seus ambientes próprios, e procurar estar atento aos moçambicanos. Este é o único caminho que descobri até agora. Podem contradizer-me: Manel, compra o guia do American Express e lê lá o que precisas de saber; nos guias de viagem está tudo escrito! Contudo, será que no guia diz como se cumprimenta, respeitosamente, uma senhora de idade? Diz qual a ordem pela qual as pessoas se servem à mesa? Ou como comem? Diz qual o gesto apropriado para saudar alguém na rua, e qual o apropriado para o fazer na Igreja? Diz como pedir desculpa?
Eu não sei o que sendo óbvio para um moçambicano, não é óbvio para mim, português. E o meu problema é ninguém perder tempo a escrever o óbvio, justamente porque é óbvio! E, ao mudar de terra, o que parece óbvio deixa de o ser. Aprender novos óbvios é a missão do estrangeiro que não quer ser turista, do estrangeiro que quer entrar em Moçambique, e isso é que torna ser estrangeiro tão apaixonante!"

Manuel Cardoso, sj

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