segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

[eu juro que ia ficar calada] mas ainda estou com o nervos!

Meus queridos amigos, eu sei que sou uma baby-blogger, uma mato-blogger, uma mozambique-blogger, uma portuguesa loira que está ironicamente prestes a tornar-se numa moçambicana mulata por usocapião (Armando Guebuza, mi aguardje!). Sou uma pessoa com bom feitio que acredita até à evidência última que a maioria das pessoas com quem se cruza tem boas intenções. Há poucas pessoas que me fazem zangar e ainda menos as que me conseguem enfurecer.

E não sou nenhuma santa, felizmente. Aliás, para que conste em ata, um dos primeiros posts deste mato e motto da minha vida assevera que "Todos os santos têm um passado, só os pecadores têm futuro."

Por isso estou espantada comigo mesma por ainda não me ter passado a fúria que me assolou quando li este artigo. Mas, sinceramente, a pediatra que habita em mim acordou e está chocada. E envergonhada. E dececionada. Eu, que nem conhecia o senhor que o escreveu. Continuo a não saber nada sobre ele para além do facto de que possui uma crónica no Expresso...

Eu até percebo a ideia geral. O autor pretendeu transmitir desagrado com a ausência de limites e incapacidade de contenção de alguns pais de hoje, mas adotou um discurso simplista e, na ânsia de demonstrar alguma utilização abusiva do termo médico de "hiperatividade", acabou por denunciar a sua própria falta de preparação para discutir o tema, evidenciando zero de documentação sobre o assunto. E zero de empatia para com os pais. Os comentários de alguns professores só me deixaram ainda mais triste ao constatar mais uma vez as dificuldades por que os pais têm de passar quando os filhos têm esse diagnóstico e confirmar mais uma vez que faço bem em recomendar-lhes que mantenham o diagnóstico para si e não o revelem aos professores porque o  preconceito é ainda enorme... Desculpem mas não consigo ficar calada. Nem como desabafo na mesa de um café eu seria capaz de tolerar este discurso.

15 comentários:

  1. Olá

    Tenho um filho hiperactivo, durante muito tempo pensei como este senhor, achava que a solução para o problema não eram os psicólogos e pedopsiquiatras, apesar dos diagnósticos de hiperactividade, défice de atenção e dislexia,eu continuava a achar que o que ele precisava era de regras e mão dura, que o que tinha funcionado comigo, que era uma criança normal, também ia funcionar com ele.

    Um dia acordei às cinco da manhã e cheirou-me a fumo, levantei-me e fui dar com ele a fazer uma fogueira debaixo do edredão, nesse dia percebi que há coisas que estão mais além das regras, das sovas e dos castigos...e que não, que eu não ia conseguir resolver o problema, porque não é um problema que se resolva com educação, é uma doença e as doenças devem ser tratadas.

    O texto não me estranha nada, por vezes falo da hiperactividade no meu blog e há sempre alguém que vem dizer algo parecido com o que diz este senhor, há muita gente que pensa como ele... infelizmente.

    Jorge Soares

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    1. Caro Jorge Soares, obrigada pelo comentário e pela partilha... Qual é mesmo o seu blog?

      (um) beijo de mulata

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    2. Só para deitar mais umas achas para esta fogueira, deixo um link para um post que escrevi há uns tempos.

      http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/372846.html

      Jorge Soares

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  2. O me blog é aqui: http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/

    Mas também sou quem mantém o Nos adoptamos, lembra-se?, no outro dia pedi autorização para publicar algo de aqui.

    Jorge

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    1. Claro que me lembro! Não me lembrava era do que tinha sido o jantar ;) Obrigada!

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  3. Terás que concordar que o artigo de opinião desse senhor nao vale uma zanga. É demasiado tolo e sem estrutura para que se possa levar a sério. Bj

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    1. Tens razão, minha querida, mas é um artigo do Expresso. E de um senhor que se arvora em especialista numa série de coisas... Obrigada. Já me sinto melhor ;)

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    2. (eu a deitar lenha na fogueira)
      Tem toda a razão para estar furiosa. É que já o título lança as pessoas na direcção errada, e hoje vi - com surpresa - muitos sinais de concordância com isto.

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  4. Este assunto é polémico por várias razõess:
    E é verdade que há muitos maus diagnósticos. E que há muitos casos de médicos que sem formação (e sem pedirem os devidos testes a psicológos que são os únicos que estão capacitados para os fazer) diagnosticam hiper actividade a uma criança e só depois pedem a confirmação a um psicologo. O que é errado, anti ético e mostra um mau profissionalismo enorme. E muitas vezes (a maioria) este diagnóstico está errado.

    E isto passa-se nos principais hospitais deste país. Tenho muitas colegas de trabalho que foram "coagidas" a apresentar relatórios falsos porque os "senhores doutores" já tinham dito aos pais que a criança era hiperactiva.


    Por isso cuidado com a forma como se fala deste assunto.

    A hiperactividade é rara e muito díficil de diagnosticar.

    E ao mesmo tempo que não se deve minimizar os verdadeiros casos, há muitos casos por aí que são verdadeiramente casos de maus diagnósticos e de coisas que os "pais acham" (Muitas vezes já ouvi pais dizerem que os filhos eram hiper activos "só porque sim", ou porque o filho de ñao sei uem era e era igual ao filho, ou porque o pediatra tinham dito sem realizar nennhum teste. Rídiculo.)

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    1. Conheço um caso de um menino que a mãe levou-o a uma psicologa e a receitoui-lhe umas gotas (Penso que são gostas!) para ele acalmar e ter mais atenção nas aulas. Fiquei pasma pois o miudo com 7 anos normalissimo ( dentro dos parametros...) e uma psicologa e uma mãe põe o menino dormente para ter mais rendimento e mais atenção nas aulas?

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  5. querida mulata,

    é raro ver-te em tamanho alvoroço, desabafa para aí mulher :)

    acho que este senhor não se estava a referir aos reais casos de hiperactividade, mas antes aos dissimulados casos de preguiça parental. preguiça em educar, preguiça porque dá trabalho, porque querem ser bajulados e "amados" quando dizer um não, educar dá trabalho, os pequenos seres revoltam-se contra nós e testam-nos os limites até ao impossível.

    não discuto do ponto vista médico se foi bem ou mal abordado. sem dúvida com ligeireza, mas reforço: acho que ele não se está a referir aos casos reais, mas antes às desculpas que muitos pais usam. concordo que muitos pais erradamente dizem isto como forma de se desresponsabilizarem de educar. erradamente, é certo, mas ainda assim infelizmente real.

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  6. Eu compreendo que quem perceba do assunto fique doido com estes "especialistas", mas também compreendo a indignação de quem assiste a cenas de má-criação perante a passividade dos pais.
    E já presenciei diálogos deste género várias vezes:
    - Ele é assim porque é hiperactivo.
    - Ah, mas já foste ao médico?
    - Não. / Não, mas não se vê logo? / Não, mas a não-sei-quantas levou o filho e o médico também achou que podia ser.

    Ou seja, há MESMO muitos pais que se demitem do dever de educar os filhos com a desculpa da hiperactividade. As razões claro que são outras, mas como não querem admiti-las dão esta (se for doença, a culpa não é dos pais).
    É um raciocínio fácil. Eu própria já me desculpei várias vezes com o sono, esse grande causador de birras e má-criações! Mas sei perfeitamente que se pode ter sono sem ser mal-criado... Não é fácil (nem para mim!), mas é possível!!

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    1. É, eu também já "desculpei" birras e disse que era do sono... mas nunca dei mediquei às minhas filhas para dormir. Claro que ser permissivo é muito mais fácil do que muitas vezes dizer não. Mas a dada altura consigo ver os frutos de tanto eu dizer não, de tanto eu explicar pela milesima vez que não se deita brinquedos no chão, ou que tem de fazer a cama etc etc

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  7. A birra, birra mesmo, birra pura, daquelas que faça o que se fizer não se consegue nada a não ser choro descontrolado, tem normalmente uma causa: sono, fome, medo, cansaço.

    Depois, há fitas que, na maioria das vezes, também têm um motivo: estar tempo a mais no restaurante, no supermercado ou noutro sítio onde a nós, adultos, nos apetece ou temos que estar. Os meus filhos vão a todo o lado (quer dizer, não os levo a jantar à Bica do Sapato!), mas às vezes, pedimos a conta sem beber café ou um de nós vai até lá fora com eles para descomprimir.

    Agora, levar com olhares de lado porque os meus filhos de 4 e 2 anos estão a rir-se à gargalhada num restaurante, temos pena, c´est la vie.

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    1. Caríssima anónima, fala da sua experiência, que é uma mãe organizada e dedicada de duas crianças saudáveis e felizes. O seu empenho dá frutos, mas sem qualquer desmérito, também tem crianças normais.

      Acredite que as crianças que sofrem de hiperatividade ou de outra doença que se manifeste por agitação psico-motora (ansiedade, perturbação de oposição/desafio, depressão ligeira) não têm uma causa para fazer birras e distúrbios e não param quietas três segundos seguidos. Não adianta qualquer castigo. É, como dizia a mulher do Jorge, como castigar um paraplégico por não conseguir andar. Não está ao alcance dele!

      (um) beijo de mulata

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